Vencedores e perdedores das rapinas globais por suprimentos médicos

A pandemia está mostrando da maneira mais grosseira, uma das máximas do capitalismo: "negócio é negócio". Os Estados Unidos e a Europa compram e acumulam insumos. Os países dependentes perdem.


Em todo o mundo, se pode observar como o coronavírus expôs a lógica capitalista do lucro. Os grandes empregadores - e os políticos que administram seus negócios nos Estados os permitem - acumulae lucros milionários, equanto estão demitindo ou suspendendo seus trabalhadores.
Aqueles que têm empregos considerados essenciais (a grande maioria deles precários) arriscam suas vidas sem proteção adequada. É por isso que em vários países começam a organizar medidas de protesto.
Aqueles que não "gozam" dessa sorte, que vivem do que podem coletar no dia vendendo nas ruas ou por outros meios, não têm diretamente nada para levar suas famílias a uma quarentena global sem políticas econômicas suficientes para essas populações.
Também neste diário, já refletimos como nos Estados Unidos, devido a profundas diferenças sociais, os mortos se acumulam entre as populações afro-americanas e latinas.
Mas hoje em dia outro aspecto da irracionalidade capitalista veio à tona. Os países imperialistas da Europa e dos Estados Unidos atuam como aves de rapina entre si, "roubando" remessas de materiais sanitários. Como eles fazem isso?
No início deste mês, a Alemanha informou que agentes norte-americanos interceptaram um carregamento de 400.000 máscaras na Tailândia. A principal potência imperialista pagou em dinheiro e reteve as máscaras destinadas ao país europeu.
Até vários jornais relatam que esses Estados usam suas próprias agências de inteligência para localizar remessas.
Mas não é só isso. Os países centrais estão concentrando a grande maioria das compras de suprimentos básicos para lidar com o coronavírus, especialmente kits de teste e máscaras. Isso significa que as empresas que fabricam esses materiais vendem em menor grau aos países dependentes (econômica ou politicamente). Como aquele peixe grande que come o peixe pequeno.
Isso afeta principalmente dois continentes com as populações mais pobres: África e América Latina. Segundo a Comissão Econômica para a América Latina, em 2018 já havia 63 milhões de pessoas em extrema pobreza no continente, graças aos cortes nos programas sociais que os governos latino-americanos vêm realizando, especialmente na última década.
Brasil, Bolívia e Equador são os países latinos em que esse índice aumentou mais. Estamos falando de milhões de pessoas que nem sequer têm água limpa para lavar as mãos, muito menos comida com os nutrientes necessários. O mesmo é verdade na África.
Conforme relatado ontem pelo New York Times, as empresas fornecedoras - especialmente dos kits de teste - informaram os cientistas dos países da África e da América Latina que os pedidos de seus países levarão meses, porque sua cadeia de suprimentos está em colapso e quase toda a sua produção atual já foi comprada pelos Estados Unidos e Europa.
Quanto as máscaras, a própria Unicef, de acordo com o responsável pelas compras dessa organização, tentou comprar 240 milhões para distribuir em 100 países e conseguiu apenas 28 milhões, montante que nem é suficiente para um país densamente povoado como os dos continentes a que nos referimos.
Irracionalidade capitalista que se chama.
A diretora da Fundação para Novos Diagnósticos Inovadores, Catharina Boehme, organização que trabalha com a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarou há alguns dias: “a competição por recursos é uma potencial catástrofe global, uma vez que costumava ser uma cadeia de suprimentos coerente e eficiente se tornou um exercício de pressão e luta.
Obviamente, o que essas organizações não dizem é que os laboratórios de fabricação de testes para a Covid-19 também são responsáveis ​​por essa "catástrofe global". Porque pela mesma lógica capitalista, eles vão vender para quem pagar mais.
Mas há outra saída
É o que setores de trabalhadores estão propondo em alguns desses países, como na Argentina, onde nas fábricas sob gestão de trabalhadores, os trabalhadores estão convertendo algumas de suas linhas de produção para fabricar suprimentos, como álcool gel e máscaras. Por que não fazer isso em grande escala e fazer com que fábricas, por exemplo, automotivas, reconvertam a produção de respiradores?
Isso já foi feito pelos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Mas Donald Trump e o establishment ianque preferem continuar roubando países dependentes. Enquanto a Europa faz o mesmo.

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