As últimas semanas ficaram marcadas pelo debate imposto pelo reacionarismo de Bolsonaro de negar a necessidade de quarentenas como medida de prevenção ao vírus, querendo a volta ao trabalho. Contudo, a quarentena por si mesma também não previne, frente, em primeiro lugar, à ausência de testes massivos,mas também pela falta de saneamento de milhões de brasileiros.
As últimas semanas ficaram marcadas pelo debate imposto pelo reacionarismo de Bolsonaro de negar a necessidade de quarentenas como medida de prevenção ao vírus, querendo a volta ao trabalho. Contudo, a quarentena por si mesma também não previne, frente, em primeiro lugar, à ausência de testes massivos,mas também pela falta de saneamento de milhões de brasileiros.
Uma reportagem do jornal Globo apresentou dados assustadores de 31 milhões (16%) de brasileiros que não tem água em casa, o que não permite sequer lavar as mãos com sabão, uma medida básica e eficaz de prevenção. A situação é mais extrema para 5,8 milhões de pessoas que não tem banheiro nas suas casas, em um país onde 74,2 milhões (37%) vivem em áreas sem esgoto.
Muitas dessas casas estão nas favelas e bairros pobres e periferias, que possuem o agravante de estarem entre os 11,6 milhões de brasileiros (5,6%) que vivem em imóveis com mais de 3 moradores por dormitório, considerado adensamento excessivo. Ou seja, simplesmente ficar em casa para essas pessoas coloca suas famílias em risco e impede que uma medida básica de prevenção, como lavar as mãos, seja possível.
Bolsonaro, ironizou essa situação dizendo que "Brasileiro pula em esgoto e não acontece nada", numa declaração grotesca de descaso com a vida das pessoas. Enquanto isso, Guedes e o Congresso buscam acelerar o processo de privatização do saneamento, através do "Novo Marco do Saneamento", que dará a iniciativa privada a oportunidade de lucrar em cima da exploração da saúde dessas pessoas.
Por sua vez, quando os governadores se limitam a defender quarentena, ao passo que sequer garantem testes massivos para identificar as pessoas contaminadas que não apresentam necessariamente sintomas do coronavírus, estão também colocando vidas em risco.
No Rio de Janeiro, 4 favelas já apresentam 2 casos confirmados entre 5 suspeitos e anunciam o perigo da fase mais grave da doença, que ao chegar nessas regiões com problemas estruturais graves de saneamento e alimentação tende a resultar em uma tragédia social.
A irresponsabilidade dos governos, que ao longo dos anos preparam as condições para que essas famílias ficassem completamente vulneráveis ao vírus, se agrava hoje pela falta de medidas que garantam a vida dessas pessoas, mesmo em isolamento.
Witzel e Dória, que aparecem como opositores à política genocida de Bolsonaro de “isolamento vertical”, lavam as mãos frente a essa situação. Ordenar, com apoio de medidas repressivas, que as pessoas fiquem em casa nessas condições insalubres, é pouco se importar com o risco de vida que estão correndo.
É necessário exigir que garantam quarentenas em locais salubres, com a expropriação de hotéis, resorts e SPAs, sem indenização, para abrigar essas famílias vulneráveis e isolar os contaminados, com garantia de alimentação decente, suplementos, acompanhados de profissionais de saúde, e instalados leitos de UTIs com respiradores para tratar os casos graves. Os próprios trabalhadores auto-organizados poderiam administrar e gerir esses locais, que receberiam os indivíduos contaminados pelo vírus pelo tempo que fosse necessário.
Além disso, é urgente que garantam a realização de testes massivos de coronavírus, centralizando os laboratórios públicos e privados, as indústrias farmacêuticas, junto às universidades, para garantir essa produção. Não há falta de recursos para isso, só em São Paulo empresários devem mais de 160 bilhões ao estado que seguem intocados. A fortuna desses capitalistas deveria passar a ser taxada para arrecadar os recursos também para ampliação da contratação de todos os profissionais da saúde desempregados, construção de novos leitos de UTI e garantia de máscaras e álcool gel em abundância.
Não obstante, a alta taxa de transmissão nesses bairros pobres exigem a massiva produção de respiradores mecânicos, que só pode ser garantida se os trabalhadores, por exemplo das fábricas de eletrodomésticos, das montadoras, etc, assumem o controle da reorganização produtiva desses equipamentos, cuja quantidade dirá quem vive e quem morre nessa situação.
A ausência de um “plano de guerra” por parte desses governos, em especial de Bolsonaro, implica que essa tarefa caberá a população e aos trabalhadores, através de suas associações de bairros, com exigências aos sindicatos, e organizando-se de distintas maneiras para combater o vírus e salvar vidas.
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